Mais Justiça, Menos Desigualdades

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Sem espaço para a dignidade

11/11/2021 Tempo de leitura: 2 minutos
 

As cadeias de fornecimento globais de alimentos estão quebradas. A sua governança, liderada por empresas de alimentos e supermercados, não tem garantido o respeito aos direitos humanos e à dignidade de quem colhe e planta os alimentos. A pandemia evidenciou a pouca resiliência que as empresas ligadas à produção de alimento têm para enfrentar crises e como os trabalhadores rurais acabam lidando com a maior parte do risco e das consequências negativas.

O exemplo mais recente vem do Rio Grande do Norte, onde os produtores na fruticultura local, principalmente de melão e manga, estão propondo uma redução real de 5% do salário para os trabalhadores rurais. É uma proposta que fica ainda mais cruel  quando consideramos a inflação no preço de alimentos que o país enfrenta e como as exportações de frutas têm desempenhado muito bem.

Em 2019, a Oxfam Brasil mostrou como a situação dos trabalhadores rurais da fruticultura no Rio Grande do Norte precisava melhorar e que eles ganhavam um salário em média 40% abaixo do que seria considerado um salário digno[i]. O salário digno usado para fazer a análise tem como base a metodologia Anker divulgada pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), reconhecida pela Coalizão Global pelo Salário Digno (Global Living Wage Coalition) e que envolve as certificações Rainforest Alliance, Fair Trade International, ISEAL Alliance e a Social Accountability International.

Entre os produtores analisados estão, por exemplo, grandes empresas do agronegócio brasileiro como a Agrícola Famosa (maior exportadora de melão do mundo), a Finoagro (uma importante exportadora da manga), a Caliman (uma importante exportadora de mamão) e multinacionais como a Del Monte Fresh Produce e a Bollo. 

Em 2019, respondendo a um questionamento da Oxfam, os seguintes supermercados da Alemanha, Holanda, Reino Unido e Estados Unidos confirmaram – ou não negaram – que compram frutas da região:  Edeka, Kroger, Lidl, Morrisons, Plus, Sainsbury’s, Sam’s Club, Tesco, Walmart e Whole Foods[ii].

Existem boas práticas no Rio Grande do Norte, e muitos produtores apresentam certificações e padrões de auditoria como a Global Gap, Rainforest Alliance e SEDEX-SMETA. Por isso chama a atenção que, na negociação coletiva, a proposta seja de uma redução real de salário. Muitos dos supermercados compradores da região têm compromissos de salário digno para as cadeias de fornecimento e as principais certificações, como a Rainforest Alliance, têm aprofundado este tema. Infelizmente, parece que esta mensagem não está chegando aos produtores brasileiros.

O sofrimento não deveria ser parte da comida quem compramos nos nossos supermercados favoritos. E isso inclui as frutas. Você pode ajudar a mudar isso, assine: www.oxfam.org.br/supermercados


[i] Oxfam Brasil, 2019. Frutas Doces, Vidas Amargas.

[ii] Willians, Peter, 2019. Sweet & Sour An investigation of conditions on tropical fruit

farms in North-East Brazil. Oxfam International. 

Categoria:

Desigualdade no campo

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