Conte um pouco sobre sua história.
Meu nome é Brednatella, ou simplesmente Bred. Sou natural de Salvador (BA) e sou artista visual autodidata. Em meu trabalho, sempre busco dar ênfase para a negritude, sexualidade e para a intimidade, além dos dilemas simbólicos envolvidos nas múltiplas formas de dar sentido para o que compreende-se enquanto “existência”. Esse conceito de existência em meu trabalho se dá por meio da criação de espaços constitutivos ambivalentes, isto é, ora comuns ora surreais, onde eu exploro os conceitos de “natural” e “sobrenatural” para dar novas texturas e diferentes realidades para figuras-narrativas não brancas.
Venho de uma família historicamente explorada nas fazendas de cacau e borracha no interior do estado da Bahia. Desde de um ano de vida até a infância vivi na área rural de Itanhaém, município da Baixada Santista conhecido como a primeira cidade do Brasil. Lá eu tive uma infância bastante reclusa por morar numa área rural extremamente carente de serviços públicos, como equipamentos de saúde, educativos e culturais, mas bastante rica em relação à natureza. Em 2006, eu e a minha família migramos do meio rural para Selva de Pedra em busca de uma vida melhor. O bairro que nos acolhe até hoje no município de São Paulo é Aricanduva. Foi apenas neste momento, por meio de um serviço público da política pública local de assistência social básica para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade (conhecidos hoje como Centros para Crianças e Adolescentes – CCA), que, aos nove anos de idade, tive meu primeiro contato com a arte realizando artesanatos com materiais reciclados e visitando exposições pelos museus da cidade. Apesar de ser introduzido à arte e ao artesanato sustentável desde cedo, passei por um longo período de negação e distanciamento da veia artística. Porém, acabei me encontrando novamente neste meio pelo começo da vida adulta como uma forma de fugir do desemprego e da falta de oportunidade nos estudos, isto é, do desalento acentuado.
Como você vê as desigualdades brasileiras?
Enquanto artista visual autodidata mas com formação em administração pública, vejo a desigualdade social no Brasil enquanto resultado histórico e político da construção de um projeto de Estado nação burguês, racista, misógino, lgbtfóbico etc. Logo, vejo as desigualdades sociais brasileiras não apenas enquanto algo endêmico do capitalismo, mas sim das dinâmicas de poder interna ao Brasil com suas peculiaridades absurdas, por exemplo, relacionados aos efeitos do racismo, que basicamente se estendem do período escravocrata até a contemporaneidade. A desigualdade é o pilar do Brasil que a gente precisa destruir.
Fale sobre sua obra que está no calendário Oxfam Brasil 2022.
O trabalho selecionado para participar desse projeto é a pintura “Peso morto” (2020)”. Essa obra concebida em abril de 2020, logo no começo da pandemia da COVID-19, faz parte da minha pesquisa sobre violência e sadismo contemporâneo, onde busco fazer referência ao conceito de “necropolítica” de Achille Mbembe para jogar luz sobre o embate envolvido no que entende-se enquanto “valor da vida”.