“O PIB é uma construção colonial que normaliza a pilhagem do Sul Global”, denuncia Viviana Santiago 

03/07/25

Em fala na mesa ‘Beyond GDP (Além do PIB): repensando o Financiamento para o Desenvolvimento Sustentável”, a diretora executiva da Oxfam Brasil, Viviana Santiago, desmontou os alicerces do Produto Interno Bruto como indicador de progresso. Com críticas ao racismo estrutural e ao patriarcado embutidos nas métricas econômicas, ela apresentou novos paradigmas durante o painel realizado em 2 de julho na 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, em Sevilha. 

As limitações do PIB

Viviana iniciou sua fala destacando que “o PIB não é neutro. É uma construção colonial, desenhada para servir a interesses de um mundo baseado na exploração”. Ela apresentou números reveladores: 

  • Enquanto o PIB global cresce, o 1% mais rico do Norte Global extrai 30 milhões de dólares por hora do Sul Global 
  • O trabalho de cuidado não remunerado, realizado majoritariamente por mulheres, soma 12.4 bilhões de horas diárias – equivalente a US$ 10.8 trilhões anuais 
  • Paradoxalmente, o PIB considera “produtivas” atividades como o comércio de armas e a destruição ambiental 

Novas propostas de medição

Como alternativa, Viviana Santiago defendeu a criação de um novo sistema de métricas que inclua:

  • O Índice de Palma para medir desigualdades 
  • A contabilização do trabalho de cuidado não remunerado 
  • Indicadores ecológicos que mostrem impactos ambientais reais 
  • Participação ativa de grupos marginalizados na construção dos indicadores 

“Precisamos de indicadores construídos com e para mulheres, povos indígenas, comunidades negras e LGBTQIA+. Não podem ser definidos apenas por tecnocratas”, afirmou. 

Financiamento com justiça

A diretora da Oxfam Brasil também apresentou propostas concretas para transformar o sistema financeiro internacional:

  • Implementação de taxação progressiva sobre grandes fortunas 
  • Auditorias da dívida pública com perspectiva de gênero e raça 
  • Condicionamento de empréstimos à redução efetiva de desigualdades 
  • Financiamento direto a movimentos sociais e organizações de base 

Um chamado à ação

Em seu discurso final, Viviana Santiago foi enfática: “Não estamos aqui como beneficiárias do desenvolvimento. Estamos aqui como co-criadoras de um novo horizonte”. E completou, citando a filósofa Sueli Carneiro: “Não pedimos ser integradas no mundo tal como é. Estamos decididas a reinventar o mundo”. 

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