Jornada das Pretas celebra 5 anos fortalecendo a presença de mulheres negras na política

19/11/25

A Jornada das Pretas celebrou sua 5ª edição em 2025 com uma novidade significativa: a partir deste ano, o programa passa a ser direcionado exclusivamente para mulheres que serão candidatas nas próximas eleições.

Realizada de forma online entre setembro e novembro, a Jornada reuniu participantes de todas as regiões do país em quatro encontros imersivos, com o objetivo claro de incidir diretamente no aumento do número de mulheres negras eleitas, entendido como um passo fundamental para o aprofundamento da democracia brasileira.

Promovida pela Oxfam Brasil em parceria com o Instituto Alziras, o Instituto Marielle Franco e o movimento Mulheres Negras Decidem, a Jornada das Pretas consolidou-se, ao longo de cinco anos, como um espaço seguro de acolhimento, troca de saberes e fortalecimento de trajetórias.

“A Jornada das Pretas reafirma, em sua 5ª edição, os objetivos de promover a troca de saberes, sistematizar e visibilizar experiências e trajetórias de participação política de mulheres negras, promovendo um espaço de encontro seguro e fortalecedor”, destacou Bárbara Barboza, coordenadora de Justiça Racial e de Gênero da Oxfam Brasil. “A estratégia de construir redes tem se mostrado frutífera para a democracia brasileira, e o convite é para que as mulheres continuem se conectando e acreditando que essa democracia enegrecida é possível”, completou.

Da cura preta às estratégias de campanha

Os encontros de 2025 abordaram uma gama diversa de temas essenciais para a atuação política, sempre entrelaçando o cuidado com as estratégias práticas.

O ciclo começou com um mergulho no funcionamento do Estado, com Roberta Eugênio e a deputada Dani Portela (PE) explicando os papéis do Executivo e do Legislativo, reforçando a importância de as mulheres negras ambicionarem e ocuparem ambos os espaços de poder.

A seguir, o tema “Por Reparação e Bem Viver” foi central, com contribuições de Valdecir Nascimento (Instituto Odara), Shari Garcia (Colômbia) e Fabiana Pinto (Mulheres Negras Decidem). As convidadas defenderam a reparação histórica como um processo multidimensional – que vai além da compensação econômica e a necessidade de construir um novo marco civilizatório, colocando a vida no centro da política.

A comunicação política ganhou destaque em um encontro conduzido por Nathalia Diniz (Narra e Campanha/Mandato Thais Ferreira), que apresentou ferramentas práticas para a construção de campanhas eleitorais. Foram abordados desde a “Entrevista Diamante” e a Análise FOFA (SWOT) até a definição de Pilares Narrativos, Tom de Voz, Público-Alvo (Personas) e Arquétipos, sempre com um olhar estratégico e antirracista.

Cuidado como estratégia de resistência

Um fio condutor de todos os encontros foi a defesa do autocuidado e da cura preta como pilares da resistência. Vivências conduzidas por Mônica Ferreira e Mona Lima lembraram às participantes a importância de conectar-se com o próprio corpo, a ancestralidade e as memórias afetivas. 

“Práticas ancestrais podem auxiliar a encontrar equilíbrio”, ressaltou Mônica Ferreira, enfatizando a necessidade de “soltar a mão do Caos” para entrar em um estado maior de equilíbrio e preparar-se para o poder.

Projeto Político das Mulheres Negras em perspectiva global

O encerramento da Jornada elevou o debate a uma perspectiva global, discutindo o Projeto Político das Mulheres Negras. Mônica Oliveira (Rede de Mulheres Negras de Pernambuco) traçou um panorama das conquistas e desafios, citando avanços na educação e no empreendedorismo, mas alertando para a persistência do racismo e do sexismo como estruturadores das desigualdades.

A economista e ex-vice-presidente da Costa Rica, Epsy Campbell, enviou uma mensagem em vídeo, celebrando a nova maneira de fazer política proposta pelas mulheres negras. 

“As mulheres negras definiram uma nova maneira de fazer política, que não destrói, mas cuida; que não desune, mas une; que transforma o poder para colocá-lo a serviço das pessoas”, afirmou.

A congressista equatoriana Paola Cabezas reforçou a luta comum na América Latina. “Não há democracia verdadeira se não tiver mulheres negras na política”, defendeu, salientando a necessidade de construir forças conjuntas para enfrentar a violência política e as estruturas coloniais.

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