Hoje (02), na 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, em Sevilha, especialistas e lideranças debateram o papel do financiamento na promoção da igualdade étnico-racial e a proposta do ODS 18, um objetivo complementar aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são uma agenda global criada pela ONU em 2015, composta por 17 objetivos e 169 metas para enfrentar desafios como pobreza, desigualdade e mudanças climáticas até 2030. O ODS 18, proposto pelo presidente Lula na 78ª Assembleia Geral da ONU (2023), ainda não é oficial, mas visa fortalecer a soberania alimentar e os sistemas alimentares sustentáveis, complementando o ODS 2 (Fome Zero).
Viviana Santiago, diretora executiva da Oxfam Brasil, destacou que essa é uma questão com raízes históricas:
“O tráfico transatlântico estruturou a riqueza no mundo, mas também determinou um lugar de exploração para a população afrodescendente. Precisamos de instituições que fortaleçam a emancipação, não a tutela colonial.”
Maya Quilolo, quilombola e artista, ressaltou a resistência das comunidades tradicionais:
“Nossos quilombos, com 300 anos de história, garantem direitos básicos como moradia e alimentação orgânica. Isso é desenvolvimento sustentável, mas falta reconhecimento e representação direta nos fóruns internacionais.”
Luciana Servo, presidente do IPEA, abordou a necessidade de transparência no financiamento:
“Precisamos de marcadores orçamentários claros para a igualdade racial. Sem mudar a lógica da arquitetura financeira, que exclui mulheres e negros, não teremos políticas eficazes.”
Letícia Leobet, assessora do Geledés, lembrou a pressão do movimento negro nas agendas globais:
“O compromisso com o ODS 18 não é voluntário, é fruto da luta histórica do movimento negro, desde Durban até a COP30. Avançamos, mas a disputa por reconhecimento continua.”
Caminhos para Justiça Econômica
As participantes defenderam:
- Reparação histórica, com foco no direito à terra para comunidades quilombolas e indígenas.
- Financiamento transparente e inclusivo, com participação direta de grupos marginalizados nas decisões.
- Integração da agenda racial nos ODS e nas políticas climáticas.
A mesa reforçou que, sem enfrentar o racismo estrutural e revisar os modelos econômicos, o desenvolvimento sustentável seguirá incompleto. A Oxfam Brasil acompanha essas discussões e reforça o chamado por ações concretas e financiamento justo.