Em fala na mesa ‘Beyond GDP (Além do PIB): repensando o Financiamento para o Desenvolvimento Sustentável”, a diretora executiva da Oxfam Brasil, Viviana Santiago, desmontou os alicerces do Produto Interno Bruto como indicador de progresso. Com críticas ao racismo estrutural e ao patriarcado embutidos nas métricas econômicas, ela apresentou novos paradigmas durante o painel realizado em 2 de julho na 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, em Sevilha.
As limitações do PIB
Viviana iniciou sua fala destacando que “o PIB não é neutro. É uma construção colonial, desenhada para servir a interesses de um mundo baseado na exploração”. Ela apresentou números reveladores:
- Enquanto o PIB global cresce, o 1% mais rico do Norte Global extrai 30 milhões de dólares por hora do Sul Global
- O trabalho de cuidado não remunerado, realizado majoritariamente por mulheres, soma 12.4 bilhões de horas diárias – equivalente a US$ 10.8 trilhões anuais
- Paradoxalmente, o PIB considera “produtivas” atividades como o comércio de armas e a destruição ambiental
Novas propostas de medição
Como alternativa, Viviana Santiago defendeu a criação de um novo sistema de métricas que inclua:
- O Índice de Palma para medir desigualdades
- A contabilização do trabalho de cuidado não remunerado
- Indicadores ecológicos que mostrem impactos ambientais reais
- Participação ativa de grupos marginalizados na construção dos indicadores
“Precisamos de indicadores construídos com e para mulheres, povos indígenas, comunidades negras e LGBTQIA+. Não podem ser definidos apenas por tecnocratas”, afirmou.
Financiamento com justiça
A diretora da Oxfam Brasil também apresentou propostas concretas para transformar o sistema financeiro internacional:
- Implementação de taxação progressiva sobre grandes fortunas
- Auditorias da dívida pública com perspectiva de gênero e raça
- Condicionamento de empréstimos à redução efetiva de desigualdades
- Financiamento direto a movimentos sociais e organizações de base
Um chamado à ação
Em seu discurso final, Viviana Santiago foi enfática: “Não estamos aqui como beneficiárias do desenvolvimento. Estamos aqui como co-criadoras de um novo horizonte”. E completou, citando a filósofa Sueli Carneiro: “Não pedimos ser integradas no mundo tal como é. Estamos decididas a reinventar o mundo”.