A Oxfam aderiu à nova iniciativa de cuidado lançada ontem pelos governos do Brasil, México e Colômbia, entre outros, durante a Quarta Conferência sobre Financiamento para o Desenvolvimento, em Sevilha. A coalizão tem como objetivo impulsionar o investimento em cuidado, com o propósito de reduzir desigualdades. A diretora executiva da Oxfam México, Alexandra Haas, declarou:
“Essa iniciativa busca fechar a lacuna que, há séculos, tem colocado as mulheres em desvantagem ao redor do mundo. As mulheres realizam 76% do trabalho de cuidado não remunerado globalmente e são as mais afetadas pelos cortes em serviços públicos. Essa distribuição desigual do cuidado está enraizada na divisão sexual do trabalho e nos desequilíbrios de poder coloniais entre Norte e Sul globais, além de uma estrutura econômica que favorece os super-ricos às custas do restante da população.
Essa agenda não avança na velocidade que gostaríamos, porque requer financiamento. Mas, se os governos não investirem, o trabalho de cuidado recairá mais uma vez sobre os ombros das mulheres – especialmente as mulheres de baixa renda e racializadas. É hora de os Estados assumirem sua responsabilidade por meio da oferta de serviços públicos de qualidade, suficientes e bem financiados.
Estamos preocupadas com o papel do setor privado na oferta de serviços públicos universais. É preciso cautela. O progresso virá da colaboração entre governos, instituições e sociedade civil. Serviços como a saúde são um direito humano e um bem público, não uma mercadoria. Esperamos que o papel do setor privado seja o de pagar sua justa parcela de impostos – recursos que podem ser usados para financiar e sustentar os serviços públicos.
Sevilha é apenas um ponto de partida, não o destino. Essa iniciativa pode abrir caminho para mais coalizões globais que coloquem o cuidado e o combate às desigualdades no centro da agenda – do FFD à COP30 e ao G20.”
A diretora executiva da Oxfam Brasil, Viviana Santiago, acrescentou:
“O reconhecimento da economia do cuidado como motor de desenvolvimento sustentável, justiça de gênero e combate à desigualdade é uma conquista importante que o Brasil ajudou a liderar em Sevilha. A iniciativa apresentada por Brasil, México e Colômbia aponta caminhos concretos para colocar o cuidado no centro das políticas públicas, com financiamento robusto e perspectiva de direitos. Essa agenda, historicamente negligenciada, é fundamental para garantir autonomia às mulheres, especialmente as negras, indígenas e periféricas, que sustentam a base invisível do bem-estar social com seu trabalho não remunerado”
“Ao lado de propostas como a aliança para taxar os super-ricos, a Plataforma de Ação de Sevilha representa uma virada necessária. Não basta reconhecer o cuidado como essencial: é preciso garantir orçamento, dados, governança e vontade política para tirar essa agenda do papel. O Brasil tem a oportunidade de liderar regionalmente esse processo, fortalecendo políticas de cuidado como estratégia de enfrentamento às desigualdades e à pobreza.”