No Dia Internacional da Mulher, é fundamental dar visibilidade à realidade das mulheres no campo brasileiro já que elas são essenciais para a produção de alimentos no país, mas enfrentam condições de trabalho precárias, baixa remuneração, falta de acesso a direitos e uma carga de trabalho muitas vezes invisibilizada.
Segundo dados do IBGE, trabalhadoras rurais ganham, em média, 20% a menos do que os homens que desempenham funções equivalentes. Além disso, quase metade delas (48%) não tem vínculo formal de emprego1, o que significa menos acesso a direitos trabalhistas como licença-maternidade, férias e aposentadoria.
Safristas: trabalho exaustivo e a dupla jornada
As safristas, trabalhadoras temporárias que seguem o calendário de colheitas pelo país, vivem uma realidade ainda mais difícil. Sem vínculos formais de trabalho, muitas são contratadas por intermediários e submetidas a condições exaustivas.
Para além das longas jornadas nas plantações, quando chegam em casa, a responsabilidade pelo trabalho de cuidados – como cozinhar, limpar e cuidar dos filhos – ainda recai quase inteiramente sobre elas, ampliando sua carga de trabalho diária.
O papel das mulheres na agricultura familiar
As mulheres são a espinha dorsal da agricultura familiar, responsáveis não apenas pelo cultivo e comercialização de alimentos, mas também pelo trabalho de cuidados dentro de suas famílias.
Dados do Censo Agropecuário indicam que 20% dos empreendimentos rurais são dirigidos por mulheres – um avanço em relação ao passado, mas ainda uma parcela pequena diante da importância do trabalho feminino no campo.
Além disso, as mulheres que comandam propriedades rurais possuem acesso mais limitado a crédito e políticas públicas que incentivam a produção agrícola.
Os impactos dos agrotóxicos na saúde das mulheres
A exposição a agrotóxicos é um problema grave para todos os trabalhadores rurais, mas afeta de forma ainda mais severa as mulheres. Muitas vezes encarregadas de preparar e aplicar os produtos ou de lavar roupas contaminadas, elas ficam mais expostas a substâncias que podem causar doenças respiratórias, problemas hormonais, infertilidade e complicações na gravidez.
O Brasil, um dos maiores consumidores mundiais de agrotóxicos, ainda permite o uso de muitos produtos proibidos em outros países, agravando os riscos para as trabalhadoras do campo.
Falta de infraestrutura básica para as mulheres trabalhadoras
Além das dificuldades no trabalho e da sobrecarga com os cuidados, muitas mulheres do campo enfrentam condições precárias no dia a dia da lavoura.
A ausência de banheiros adequados é um problema constante, especialmente para aquelas que estão menstruadas e não têm acesso a locais apropriados para higiene.
A falta de creches também impacta diretamente a vida das mães trabalhadoras, que muitas vezes não têm onde deixar seus filhos enquanto trabalham.
A organização das mulheres rurais: CONTAR e as Comissões de Mulheres
A CONTAR (Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais) tem desempenhado um papel fundamental na luta pelos direitos das mulheres rurais. Por meio de suas comissões de mulheres, a CONTAR atua para garantir que as trabalhadoras rurais sejam reconhecidas como titulares de direitos, combatendo a invisibilidade e a informalidade que muitas enfrentam.
Essas comissões promovem a conscientização sobre os direitos trabalhistas, auxiliam na formalização de contratos e lutam contra a exploração e o trabalho análogo à escravidão, que afeta desproporcionalmente as mulheres no campo. A atuação dessas comissões é essencial para fortalecer a organização coletiva das mulheres rurais, garantindo que suas demandas por igualdade, dignidade e melhores condições de trabalho sejam ouvidas e atendidas.
O reconhecimento da luta das mulheres no campo
Apesar dos desafios, as mulheres do campo seguem resistindo e se organizando para reivindicar seus direitos. Movimentos como a Marcha das Margaridas mostram que a luta por igualdade e dignidade para as trabalhadoras rurais segue viva.
No Dia Internacional da Mulher, é essencial reconhecer que a produção de alimentos no Brasil tem o trabalho feminino como base. E que essas mulheres, fundamentais para garantir comida na mesa de milhões de brasileiros, precisam ter seus direitos garantidos, com acesso a salários dignos, infraestrutura adequada e políticas públicas que levem em conta as especificidades de sua realidade.