A cada ano, enquanto assistimos a enchentes destruírem cidades, queimadas consumirem florestas e secas arruinarem colheitas, quase 200 países se reúnem na COP, a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas da ONU.
Em 2025, esse encontro crucial acontecerá na Amazônia brasileira, com a COP30 em Belém. Mas como exatamente funcionam essas negociações que determinam o futuro das pessoas, dos territórios no mundo e do planeta?
Quem participa da COP?
Atualmente, 198 países são signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) — praticamente todos os países do mundo: Brasil, Alemanha, Índia, Estados Unidos, Japão, Indonésia, África do Sul, Canadá, México, Reino Unido, Arábia Saudita, Egito, França, Moçambique, Tuvalu, Maldivas, entre muitos outros. Todos com direito a voz nas negociações, embora o peso político de suas posições varie.
Como as decisões são tomadas?
Uma característica fundamental das COPs é que as decisões só são aprovadas por consenso.
Isso significa que, para qualquer acordo ser oficializado, desde a meta de redução de emissões até o fundo de financiamento climático, nenhum país pode se opor formalmente.
Na prática, isso dá poder de veto até aos países mais vulneráveis e pequenos, mas também permite que países poluidores ou grandes exportadores de petróleo e carvão bloqueiem avanços importantes. Por isso, muitas vezes as decisões são resultado de longas negociações, concessões e textos genéricos para acomodar todos.
O caminho até a COP: os eventos preparatórios que moldam as decisões
Antes da grande conferência anual, ocorre uma série de reuniões técnicas e políticas que poucos conhecem, mas que são essenciais para definir o que será discutido e decidido.
Incluir os países que participam da Conferência das Partes;
- Conferência de Bonn (SBs):
Realizada na sede da UNFCCC na Alemanha, esta reunião técnica acontece meses antes da COP. Aqui, negociadores de todos os países debatem detalhes complexos – desde metodologias para calcular emissões até regras para mercados de carbono. É onde se constroem os textos que depois serão votados pelos ministros na COP.
- Reuniões ministeriais de alto nível:
Enquanto em Bonn discutem-se os “como”, nestes encontros fechados definem-se os “o quê”. Ministros do Meio Ambiente e das Relações Exteriores de países-chave negociam acordos políticos antes mesmo da COP começar. Em 2025, o Brasil, como anfitrião, terá papel central nesses diálogos.
- Workshops técnicos da UNFCCC:
Especialistas apresentam dados científicos atualizados sobre o clima na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (em inglês, United Nations Framework Convention on Climate Change ou UNFCCC). Em 2024, um relatório alarmante mostrou que já ultrapassamos 1,5°C de aquecimento – informação que certamente pautará a COP30.
- Encontros regionais:
Países se organizam em blocos para fortalecer suas posições:
- G77+China: grupo dos países em desenvolvimento (incluindo o Brasil)
- União Europeia: geralmente defende metas mais ambiciosas, mas focando em seus próprios interesses
- AILAC: países latino-americanos mais progressistas
- BASIC: Brasil, África do Sul, Índia e China
- Cúpula do BRICS no Rio:
Marcada para 2025, esta reunião pré-COP30 deve focar no financiamento climático – um dos temas mais polêmicos, já que países ricos não cumprem a promessa de US$ 100 bilhões anuais para nações vulneráveis.
Curiosidade: A Cúpula do BRICS, no Rio em 2025, terá papel importante na COP30, discutindo, por exemplo, o financiamento climático para os países do Sul Global.
A disputa por espaço: entre a diplomacia e a pressão popular
Por trás do jargão técnico e das longas sessões diplomáticas, a COP é um palco de intensas disputas de poder. Enquanto países industrializados tentam diluir suas responsabilidades históricas, nações insulares – que podem desaparecer com o aumento do nível do mar – lutam por sobrevivência.
A participação da sociedade civil nesse processo é limitada e desigual:
- Na Zona Azul (Blue Zone), onde ocorrem as negociações oficiais, apenas organizações credenciadas podem entrar – um processo burocrático que exclui muitas comunidades impactadas.
- Na Zona Verde (Green Zone), aberta ao público, vozes importantes são ouvidas, mas muitas vezes distantes das salas onde as decisões são tomadas.
“Às vezes é como tentar influenciar um tratado internacional do lado de fora do prédio”, desabafa Nafkote Dab, da Oxfam Internacional,que participou de COPs anteriores.
Faz falta mais acesso popular e conteúdo acessível para quem não fala inglês ou não consegue acompanhar termos técnicos. As transmissões oficiais, comunicados e relatórios poderiam ter versões em linguagem simples, audiovisuais e traduzidas.
Também é fundamental ampliar os espaços de participação para juventudes periféricas, quilombolas, indígenas e lideranças de territórios vulneráveis, não só da Amazônia.
E quem pode ir a COP?
Uma COP reúne representantes oficiais dos países membros, como chefes de Estado, ministros, diplomatas e delegados governamentais, para negociar acordos climáticos. Além deles, observadores credenciados como ONGs, cientistas, jornalistas e empresas também podem participar, contribuindo com expertise e advocacy, mas sem direito a voto nas decisões oficiais.
Para conseguir uma credencial, é necessário ser vinculado a uma instituição reconhecida pela ONU, como governos, órgãos da ONU, ONGs credenciadas ou mídia registrada. As credenciais são solicitadas por meio da instituição representante, que as submete à secretaria da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) para aprovação. As vagas são limitadas, e o processo varia conforme o tipo de participante (delegação oficial, observador ou imprensa).
COP30: a chance de mudar o jogo
Realizar a COP na Amazônia não é só simbólico, é estratégico. Pela primeira vez:
- As vozes dos povos da floresta estarão no centro do debate
- O mundo verá de perto a importância e os riscos enfrentados pelo maior bioma tropical
- O Brasil pode liderar os países do Sul Global em uma agenda climática mais justa
Mas para isso, o debate precisa chegar às ruas, praças, escolas, comunidades e redes sociais de forma acessível e democrática. Então precisamos:
- De conteúdos didáticos, traduzidos e visualmente acessíveis
- De oportunidades para jovens, mulheres negras, indígenas e populações tradicionais ocuparem as mesas de decisão
- E de espaços públicos e digitais de debate que dialoguem com quem realmente sente na pele as mudanças climáticas
A COP30 pode ser histórica — se conseguirmos participar dela, dentro e fora das salas de negociação. E se entendermos que, no sistema de consenso, a mobilização externa é o que muitas vezes força países a cederem e aceitarem compromissos mais ambiciosos.
