A crise climática afeta o mundo de maneira desigual, impactando desproporcionalmente comunidades historicamente privadas de seus direitos básicos, como populações negras, indígenas, quilombolas e moradores de periferias urbanas. No Brasil, esses grupos estão entre os mais vulneráveis a eventos climáticos extremos, como enchentes, deslizamentos de terra e ondas de calor intensas. Diante desse cenário, a justiça climática antirracista se torna uma abordagem essencial, assegurando que as respostas à crise climática considerem as interseccionalidades de seus impactos e promovam equidade na construção de soluções para pessoas e territórios.
O que é Justiça Climática Antirracista?
A justiça climática antirracista parte do reconhecimento de que a crise climática é também uma crise social, na qual fatores históricos como racismo estrutural e desigualdade econômica aumentam a vulnerabilidade de certos grupos. No Brasil, comunidades negras e indígenas são frequentemente excluídas dos debates e das decisões sobre políticas socioambientais e climáticas, ao mesmo tempo que sofrem com a poluição industrial, desmatamento e falta de acesso a moradia digna, saneamento básico e a infraestrutura resiliente.
A justiça climática antirracista enfatiza que essas populações não sejam apenas beneficiárias de políticas climáticas, mas protagonistas na formulação de soluções. Isso inclui o respeito aos saberes tradicionais, a garantia de direitos territoriais e a implementação de mecanismos de participação popular efetiva na governança climática.
O Papel do Financiamento Climático
O financiamento climático é uma ferramenta essencial para viabilizar uma transição justa e sustentável. No entanto, o acesso a esses recursos no Brasil é marcado por desigualdades, com dificuldades para que comunidades vulnerabilizadas acessem fundos nacionais e internacionais.
Atualmente, grande parte dos recursos climáticos é direcionada para projetos de grande escala, como energias renováveis e infraestrutura urbana, que muitas vezes não chegam às comunidades mais afetadas em seus territórios. É fundamental que esses fundos sejam democratizados e acessibilizados, permitindo financiamento direto para iniciativas locais, como fortalecimento das comunidades e suas lideranças, reflorestamento comunitário, segurança hídrica, agricultura regenerativa e habitação resiliente.
Caminhos para uma Transição Justa
Para garantir que o financiamento climático beneficie a população mais impactada, algumas medidas são essenciais:
- Inclusão de Critérios Sociais no Financiamento Climático: Programas de financiamento devem priorizar projetos que tenham impacto social positivo e beneficiem comunidades historicamente negligenciadas.
- Descentralização dos Recursos: Criar mecanismos que permitam o acesso direto de comunidades locais a fundos climáticos, sem burocracia excessiva.
- Participação Popular na Governança Climática: Fortalecer a representação de lideranças negras, indígenas e periféricas nos espaços de debate e decisão sobre políticas climáticas.
- Valorização de Conhecimentos Tradicionais: Apoiar iniciativas que integrem práticas ancestrais e soluções locais para a adaptação climática.
A justiça climática antirracista e o financiamento climático são dois pilares fundamentais para garantir que a transição no Brasil seja justa e inclusiva. Não basta reduzir emissões de carbono; é necessário corrigir e reparar as desigualdades históricas e garantir que todas as pessoas tenham condições dignas de vida frente à emergência climática. Para isso, é essencial que o financiamento climático seja democratizado e que as vozes das comunidades mais afetadas sejam ouvidas e respeitadas na tomada de decisão.