No painel “Towards restoring trust in the International Development Cooperation in an increasingly multipolar world”, durante a 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, em Sevilha, realizado nesta terça-feira (01/07) a diretora executiva da Oxfam Brasil, Viviana Santiago, destacou a necessidade de reconstruir a credibilidade da cooperação internacional com justiça e equidade. Em sua fala, ela criticou o desvio de recursos públicos para interesses privados e defendeu um modelo centrado na redução da pobreza e das desigualdades.
Composta por autoridades globais, incluindo Prudence Kaoma (Zâmbia), Cyrell Wangunda (Quênia), Ruud van der Helm (Holanda) e Vitalice Mejia (Reality of Aid Africa), com moderação de Jean Saldanha (Eurodad), a mesa debateu os desafios da cooperação em um mundo multipolar.
Viviana levou ao debate as vozes de grupos historicamente marginalizados, especialmente mulheres negras, indígenas e de baixa renda do Sul Global. Ela afirmou que a crise atual não é apenas financeira, mas também de legitimidade: “O modelo atual não entregou resultados e minou o apoio público à cooperação. As pessoas questionam para onde vai o dinheiro e a quem ele realmente serve.”
A diretora da Oxfam Brasil destacou dados alarmantes, como o fato de que, em países de baixa renda, cada dólar de recurso público mobiliza apenas US$ 0,37 do setor privado, muito abaixo da promessa inicial. Ela também criticou a contabilização de custos com refugiados em países doadores como Ajuda Oficial ao Desenvolvimento (AOD), prática que distorce os números e afasta o foco do combate à pobreza.
Como solução, propôs quatro eixos de ação:
- Redefinir o financiamento ao desenvolvimento, garantindo que a AOD reflita as necessidades reais dos países beneficiários, não as prioridades dos doadores.
- Democratizar a governança, com participação efetiva dos países em desenvolvimento nas decisões. “Participação sem poder não é parceria”, ressaltou.
- Cumprir promessas, como a meta de destinar 0,7% do RNB à AOD e 0,15–0,2% para os países menos desenvolvidos.
- Enfrentar as raízes da desconfiança global, incluindo legados coloniais e desigualdades raciais e de gênero.
Citando a poeta e ativista Audre Lorde “As ferramentas do opressor nunca desmontarão a casa do opressor”, Viviana enfatizou que a transformação exige novas estruturas e relações de poder. “Não podemos restaurar a confiança com a mesma lógica que sustentou a desigualdade”, declarou.
Ao final, reforçou seu compromisso com a justiça multidimensional:
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Sua fala foi recebida com aplausos e destacou o papel essencial da sociedade civil na reconstrução de um sistema de cooperação mais justo e eficaz.