Oxfam Brasil destaca urgência de reformas no sistema financeiro global durante Fórum da Sociedade Civil em Sevilha

29/06/25

A Oxfam Brasil está participando do Fórum da Sociedade Civil FfD4, realizado em Sevilha, na Espanha. O evento é organizado pelo Mecanismo da Sociedade Civil para o FfD em colaboração com plataformas de coordenação locais e regionais e tem como objetivo conectar o processo oficial da conferência com as demandas da sociedade civil organizada em diferentes níveis.

Viviana Santiago, diretora executiva da Oxfam Brasil, foi uma das vozes que fizeram parte do painel “Breaking the BWI Hegemony”. Em sua intervenção, destacou como o sistema financeiro global continua operando sob lógicas coloniais que aprofundam desigualdades, especialmente no Sul Global.

“O sistema de financiamento para o desenvolvimento ainda opera sob lógicas coloniais. O reconhecimento simbólico do ‘Compromisso de Sevilha’ é um avanço, mas sem ações concretas, é só retórica. Precisamos de reparações históricas e justiça fiscal para desmontar a arquitetura financeira racista.” destacou.

Ela reconheceu como positivo o fato de o Compromisso de Sevilha mencionar pela primeira vez os impactos do colonialismo e do racismo nas estruturas financeiras. No entanto, alertou que esse reconhecimento simbólico se mostra insuficiente diante da falta de mecanismos concretos de implementação. Os termos vagos como “fomentar” e “considerar” presentes no documento contrastam com a urgência das mudanças necessárias.

Um dos pontos centrais da análise apresentada foi a revelação de que, somente em 2023, o Sul Global transferiu mais de 30 milhões de dólares por hora ao Norte Global através de pagamentos de dívida e outros fluxos financeiros. Essa dinâmica desmente a narrativa convencional sobre ajuda ao desenvolvimento e expõe uma realidade de espoliação sistemática.

As críticas se estenderam às políticas do FMI, que continuam impondo receitas de austeridade com impactos profundamente desiguais. Para cada dólar que a instituição recomenda gastar em serviços públicos, exige seis dólares em cortes. Essas medidas recaem desproporcionalmente sobre mulheres, populações negras e comunidades pobres, aprofundando vulnerabilidades.

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Viviana lembrou que, enquanto o 1% mais rico acumulou impressionantes 33,9 trilhões de dólares desde 2015, cerca de 3,7 bilhões de pessoas continuam vivendo na pobreza. Esse contraste escancara as falhas de um sistema que privilegia a acumulação em detrimento do bem-estar coletivo. Apenas 16% das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável apresentam progresso satisfatório, indicativo claro de que o atual modelo não está funcionando para a maioria da população global.

Em suas considerações finais, Viviana Santiago fez um apelo por mudanças estruturais profundas. Rejeitou a ideia de simples inclusão no sistema atual e defendeu sua transformação radical desde as bases. Citando a filósofa Sueli Carneiro, ressaltou que a luta das populações negras e do Sul Global não é por participação em estruturas injustas, mas pela construção de novas formas de organização econômica que realmente sirvam a todos.

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