As mulheres negras desenvolvem tecnologias, geram saberes e são especialistas em criar oportunidades coletivas mesmo em momentos de crises sistêmicas e escassez. Contudo são também as mulheres negras que mais sofrem violações do direito ao trabalho, que representam os maiores índices de desemprego, condicionamento ao trabalho informal, menores salários, menor acesso aos postos de trabalho com carteira assinada, e menores chances de ocuparem espaços de liderança e decisão.
Como disse Luiza Barrios, por um lado, os efeitos negativos do racismo se manifestam mais diretamente sobre a qualidade de vida das mulheres negras; por outro lado, são as mulheres negras o setor mais bem aparelhado da população negra para vencer os obstáculos colocados pelo racismo.
Em retrospecto, quando olharmos os dados do recenseamento do Império do Brasil de 1872, dezesseis anos antes da Lei Áurea, 70% das mulheres negras trabalhavam no serviço doméstico. A abolição não veio acompanhada por políticas reparatórias ou inclusivas, assim, mais de cem anos depois da abolição, em 1998, 48% do total de mulheres negras trabalhadoras no Brasil anda eram domésticas, E em 2022 as mulheres negras eram 65% das trabalhadoras domésticas no país.
Hoje, o racismo, aliado às desigualdades de gênero e ao abismo social que estruturam a sociedade brasileira obstaculizam a vida das mulheres negras frustrantes e dolorosas, privando-as da chance de sonhar e realizar seus projetos.
Ao mesmo tempo, o fio ancestral que conecta as mulheres negras do passado escravista às meninas e mulheres negras de hoje carrega uma herança: a ressignificação da experiência do que se entende por trabalho por meio de estratégias coletivas que demandam reparação histórica à população negra. As mulheres negras escrevem sua própria história, e enquanto escrevem transformam a realidade.
Aqui estão alguns dados:
52% dos empreendedores no Brasil são negros
São 14 milhões de pessoas, sendo a maioria mulheres, sobretudo, negras.
82% dos empreendedores negros não têm CNPJ
O rendimento dos donos de negócios negros é 32% menor em comparação aos brancos
*Dados da PNAD